Atentem para os versos abaixo:
"Ela tem um sorriso que, me parece,
Me remete a memórias da infância
Quando tudo era tão puro como o brilhante céu azul
De vez em quando, ao ver o seu rosto
Ela me leva para aquele lugar especial
E se eu olhasse durante muito tempo
Eu provavelmente perderia o controle e choraria
Minha doce criança, minha doce amada"
É uma letra não-recomendável a diabéticos, tal é o grau de sua "doce" pieguice. E no entanto, roqueiros do mundo inteiro ouvem essa música, agitam suas cabeças como se estivessem tendo um ataque epilético e erguem suas mãos fazendo o sinal do capeta (lml). Pois os versos acima pertencem à canção "Sweet Child O' Mine", dos Guns N' Roses.
Acho gozado, pois, quando headbangers criticam certas músicas alcunhando-as de bregas. O que diriam se ao menos se esforçassem para entender o que dizem as composições de seus ídolos?
Música e letra, de qualquer modo, não necessitam dançar no mesmo compasso. Vide o caso do primeiro grande sucesso de Beth Carvalho, "Vou Festejar". Outro dia assisti na TV a uma apresentação ao vivo de Jorge Aragão, um dos compositores dessa música junto com Dida e Neuci. O público todo se levantou das cadeiras para cantar e batucar ao som desse samba. Mas será que algum incauto repara no teor da sua letra?
"Chora
Não vou ligar
Chegou a Hora
Vais me pagar
Pode chorar, pode chorar
Ah, é o teu castigo
Brigou comigo
Sem ter por quê
Eu vou festejar
O teu sofrer
O teu penar
Você pagou com traição
A quem sempre lhe deu a mão"
Samba dos mais empolgantes, "Vou Festejar" guarda em si uma das letras mais ressentidas e vingativas de toda a MPB. Se o ritmo fosse obrigado a acompanhar os versos, provavelmente teria dado origem a um tango ou fado (mas perderia com isso a dicotomia e a ambigüidade que faz de "Vou Festejar" um dos melhores sambas que já ouvi). Essa composição me faz pensar: quem realmente presta atenção nas letras que seu ídolo canta?
1.8.08
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